quinta-feira, 31 de março de 2011

operadoras de computação em nuvem


Alcançando a nuvem
Por Jürgen Walter, Head of Business Solutions, Nokia Siemens Networks
Há poucos anos, quando a Amazon anunciou seu serviço Elastic Cloud Compute (EC2) na web, permitindo que os clientes “alugassem” recursos de computação de seu centro de processamento de dados, poucos compreenderam que cloud computing, um conceito que os principais profissionais da área de TI tiveram que abraçar para defender seus negócios, poderia trazer grandes benefícios para o setor das telecomunicações. O conceito prevê um dia em que empresas e consumidores não mais precisarão possuir e operar infraestrutura tecnológica, plataformas e aplicativos em software. No lugar disso, eles usarão recursos virtuais armazenados na “nuvem”, ou Internet, como um serviço e pagarão pelo que usarem. Portanto, para a indústria das telecomunicações, que enfrenta grandes desafios de receita e crescimento e precisa de uma transformação, a ideia é sem dúvida uma oportunidade a considerar.
Os primeiros sinais do crescimento futuro já podem ser vistos. Vários provedores europeus já agregam esses serviços a conectividade. No ano passado, a Vodafone, em parceria com a Decho, da EMC, lançou um serviço de backup de dados para consumidores e empresas de sua rede europeia. A Orange Business Services, braço business-to-business da France Telecom, também anunciou recentemente seus planos para clientes empresariais. As oportunidades são ilimitadas. Para as empresas, as operadoras de telecomunicações poderiam oferecer aplicativos em tempo real, colaboração, segurança, infraestrutura, redes prontas para esse sistema e soluções verticais voltadas a indústrias específicas.
No entanto, sua aceitação no setor, até agora, foi limitada. Uma das principais razões é que, além das operadoras precisarem identificar aplicativos prontos para a nuvem tanto em TI quanto em telecomunicações, onde esses serviços dependem da latência e da disponibilidade, e não está comprovado se a cloud computing é sólida e confiável o suficiente para as necessidades do negócio das telecomunicações. Além disso, a segurança e a qualidade dos serviços são fatores de sucesso críticos que precisam ser avaliados.
Dito isso, embora a aceitação da cloud computing possa não ser uma megatendência no setor das telecomunicações hoje, seus benefícios a tornam uma aposta viável para o futuro. Ela pode dar as operadoras a flexibilidade necessária para a rápida inovação em serviços, a fim de que estas possam introduzir novos serviços e atender às necessidades crescentes do consumidor; e pode também melhorar a eficiência interna, permitindo que as operadoras reduzam custos e aumentem a lucratividade.
A necessidade dos cinco 9s
Para entender os fatores que tornam sua adoção um desafio, é preciso lançar um olhar atento sobre as necessidades de assinantes e operadoras, e sobre o modo como os sistemas de telecomunicação foram construídos. A infraestrutura de comunicações surge como tábua de salvação para consumidores e até mesmo economias, e os sistemas no âmbito das telecomunicações são projetados para suportar aplicativos em tempo real nos quais a disponibilidade de cinco 9s (99,999%) é um pré-requisito. Isso se traduz em um tempo total de inatividade de aproximadamente 5 minutos em um ano inteiro, um padrão de interrupção que o Google nem sequer reconheceria em seu acordo de nível de serviço (SLA).
O fato de uma operadora ficar sem acesso aos detalhes de utilização de um assinante durante uma hora pode levar ao caos. A empresa pode perder receita e até mesmo clientes preciosos. Um exemplo prático é a cobrança pré-paga, que precisa estar sempre ativa, pois as operadoras dependem de informações em tempo real sobre a situação de crédito da conta a fim de determinar se podem permitir ligações, mensagens e outros serviços. Isso não é tudo: imagine-se como um assinante sem acesso a um serviço móvel durante uma hora, e pense no desconforto que isso causaria a você.
Um enorme potencial para a computação em nuvem nas telecomunicações
Para as operadoras, a promessa da eficiência de custos e a capacidade de criar modelos de receita diferenciados e oferecer novos serviços aos clientes indicam que a cloud computing pode ajudar a impulsionar a transformação dos negócios em nosso setor, e é uma ideia cuja hora chegará. No entanto, a jornada não será fácil e exigirá a análise cuidadosa de muitos aspectos. Acima de tudo, a indústria precisará investir na construção de um ecossistema vitorioso.
Para ter sucesso com a nuvem
Adotando uma abordagem de fora para dentro
A regra número 1 é que os clientes devem estar no assento do motorista rumo à novidade. As operadoras precisam determinar a melhor maneira de capitalizar a oportunidade da cloud computing. Elas precisam desenvolver seu conhecimento da rede, das necessidades dos clientes e de como o cliente empresarial e sua rede e serviços precisam se integrar em um processo end-to-end. A oportunidade é enorme. A Verizon Communications, nos Estados Unidos, adotou uma abordagem virtual do planejamento de recursos corporativos (ERP), consolidando hardware e outros componentes de TI, por meio da implantação do novo modelo para processos internos. A operadora reduziu os custos operacionais em um terço e melhorou o desempenho de TI em 400%. Dando mais um passo à frente, a operadora poderia direcionar essas economias de custo para investimentos em serviços de nuvem de preço acessível e alto valor, a fim de criar novas fontes de receita.
Isso é similar ao que a operadora australiana Telstra está fazendo com seu serviço T-suite. Com ele, os clientes da Telstra podem acessar uma série de aplicativos como email, colaboração e conferência, segurança de dados, gestão de relacionamento com o cliente (CRM), gestão financeira e de recursos humanos, assim como armazenamento online com um modelo de software como serviço (SaaS), por uma taxa de assinatura mensal. Ele funciona bem para pequenas empresas que podem manter baixos seus custos de TI, pagando apenas pelo que usam. A Telstra e seu parceiro de software, por sua vez, têm novo modelo de receita, com vasto potencial de negócio.
Entendendo o valor intrínseco – um passo de cada vez
Ao migrar aplicativos para o novo sistema, as operadoras podem cortar custos de treinamento, reduzir cargas administrativas e dedicar-se mais à operação principal. Para a maioria das operadoras, a transição interna começará com sistemas de telecomunicação que não precisam atuar em tempo real e são bastante similares aos sistemas de TI. A maioria dos aplicativos como CRM, fornecimento de serviços e conteúdo, sistemas de gerenciamento, muitos sistemas departamentais e serviços de valor agregado (VAS) encaixam-se nessa categoria. Por exemplo, a geração offline de faturas do Billing para clientes pós-pagos é ideal para começar, e também fomenta a competição entre fornecedores de soluções de Billing.
As operadoras de telecomunicações também podem expor seus ativos como um serviço de um modo seguro e confiável para seus parceiros de negócios. O setor tem sido sujeito à multiplicação de servidores para apoiar a quantidade crescente de aplicativos de voz. Embora a velha infraestrutura de telecomunicações possa não ser migrada facilmente, parte do hardware de telecomunicações já está se adequando ao hardware padronizado de TI e, a partir daí, é possível começar a promover a virtualização e a computação em nuvem. À medida que as definições estritas de TI e telecomunicações perderem força, haverá menos diferenças, o que facilitará a mudança ao longo do tempo.
Os aplicativos em tempo real, por outro lado, só migrarão para a nuvem quando a tecnologia evoluir a ponto de garantir alta confiabilidade e disponibilidade – o que significa a existência de poucos e minúsculos intervalos de tempo de interrompimento do fornecimento dos serviços. Os padrões estabelecidos pela indústria das telecomunicações determinam que a latência ou intervalo de tempo permitidos para a cobrança em redes de operadoras de telecomunicações é de 150 milissegundos. O fato é que, hoje, isso não pode ser obtido pelo melhor middleware de virtualização. Gateways e sistemas de gerenciamento de dados de assinantes de telecomunicações são exemplos similares. A evolução tecnológica é naturalmente rápida e, em poucos anos, a situação provavelmente será muito diferente.
Escolhendo o modelo certo
Uma vez tomada a decisão sobre o que precisa migrar para a nuvem, as operadoras precisarão considerar que tipo de serviço faria mais sentido. Há várias opções a considerar –nuvens privadas, públicas ou híbridas. Pessoalmente, acredito que as primeiras são ideais para as operadoras, pois constitui uma arquitetura de computação interna que fornece serviços baseados em nuvem ou hospedados a seus clientes e parceiros empresariais. As nuvens privadas oferecem os benefícios da virtualização sem os riscos inerentes, como perda do controle sobre os dados armazenados, segurança, disponibilidade de serviços e controle geral sobre o desempenho, pois é gerenciada pela organização à qual ela serve. Em um futuro próximo, muitos aplicativos de telecomunicações migrarão para nuvens privadas, como os servidores VAS já mencionados, sistemas de informação e gerenciamento e fornecimento de serviços, para mencionar apenas alguns.
As públicas, como as oferecidas por provedores de serviços como Amazon, Microsoft Azure e Google, são mais adequadas para aplicativos menos dependentes do tempo, como CRM, web, email e reuniões remotas. Esses serviços no geral estão disponíveis para as massas e são cobrados por uso ou oferecidos de forma gratuita – como o Google Docs. Os usuários desses serviços normalmente não podem esperar os mesmos padrões de qualidade de serviço e segurança presentes nos serviços de nuvem privada. Os benefícios das nuvens públicas incluem maiores economias de escala e um rico ecossistema de ofertas de terceiros. Por outro lado, têm outro padrão de confiabilidade e seus SLAs em interrupções podem não atender às necessidades empresariais. Enfim, há o conceito da nuvem híbrida, que ainda está alguns anos adiante, mas é considerada o caminho a seguir. Um ambiente como esse significará a coexistência de múltiplos provedores de serviços internos ou externos, onde as informações que não são críticas residirão em um serviço público, enquanto aplicativos vitais para a corporação serão hospedados na nuvem privada ou interna da operadora.
Implementação disciplinada
Para cumprir sua promessa, a cloud computing para telecomunicações precisará ser implementada de um modo controlado e planejado. Exemplos do passado indicam que as nuvens públicas e redes de valor desagregado podem causar problemas. Nos Estados Unidos, um serviço de backup de dispositivos foi fornecido com base nas nuvens, sem uma cadeia SLA end-to-end corretamente planejada, e graças a isso muitas pessoas perderam os dados de seus dispositivos. Estes SLAs end-to-end são uma oportunidade para a operadora preocupada com a qualidade. Também há fatores tecnológicos a considerar, como entender quais aplicativos estão disponíveis para o sistema ou qual modelo deveria ser implementado. Finalmente, um conceito como esse levanta várias questões de políticas que as regulações existentes não cobrem. Os clientes esperarão proteção de privacidade, segurança de dados, confiabilidade de serviço e responsabilidades definidas com clareza no caso de interrupções de serviços, e tudo isso exige revisões das regulações de TI e telecomunicações.
É hora de começar a caminhada rumo à nuvem
Diante do impacto potencial da cloud computing na indústria das telecomunicações, as operadoras deveriam explorar esse conceito, mas com nítido roteiro em mente. Seria prudente simplificarem sua arquitetura e sua gama de aplicativos, e decidirem o que precisa ser transferido para a nuvem, antes de investir na tecnologia, a fim de agir do modo certo. Assim, quando meus clientes perguntam: “Devo mudar para a nuvem?”, minha resposta costuma ser: “Sim, é hora de iniciar a jornada!”



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